Neste ano de Jogos Olímpicos, vibramos por muito mais do que nosso amado futebol. Sonhamos e torcemos com as estrelas da ginástica olímpica, como a Rebeca Andrade, que se tornou-se a maior medalhista olímpica do Brasil. Outros ouros vieram da Beatriz Souza, no judô, e, no vôlei de praia, com Duda e Ana Patrícia. Nas Paraolimpíadas, mulheres como Jerusa Geber e Carol Santiago garantiram ouro no atletismo e na natação. Mas, outra mulher chamou a atenção, antes mesmo de competir, Ana Paula Gonçalves, no halterofilismo paraolímpico.
Ana Paula tornou-se atleta após sofrer um atentado por parte do ex-marido, depois que decidiu terminar o relacionamento com ele. Ele efetuou dois disparos pelas costas, acertando sua medula. Ela tinha 20 anos e ficou paraplégica. O esporte foi um novo sopro de vida. Hoje, ela concilia vela e halterofilismo e, neste ano, competiu pela primeira vez nas Paraolimpíadas. Tracy Otto, esportista canadense, também se tornou atleta paraolímpica, após uma tentativa de feminicídio por parte do ex-namorado. Em setembro, a notícia do assassinato da maratonista ugandesa Rebecca Cheptegei chocou a todos: um ex-namorado ateou fogo em seu corpo.
Por que continuamos a ler este tipo de notícia? Falamos amplamente sobre a violência contra a mulher. Temos a Lei sobre o Feminicídio e a Lei Maria da Penha como forma de proteção. Não deveríamos precisar celebrar a superação de Ana Paula e de Tracy Otto, melhor seria se elas não tivessem passado por tamanha violência. Para Rebecca, é tarde demais.
A violência de gênero é um problema que existe dentro de uma sociedade patriarcal que impõe o controle e a exploração da vida e sexualidade das mulheres. A desvalorização da mulher é normalizada. Não basta termos leis repressoras, precisamos de mudança de comportamento, sobretudo dos homens.
Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres
O dia 25 de novembro marca o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres. É um convite para trabalharmos por uma sociedade mais igualitária e menos machista. No contexto do Exército de Salvação, através dos nossos Corpos e projetos sociais, é a oportunidade para promovermos uma educação baseada na valorização e no respeito e não na sobreposição de um grupo sobre outro.
O machismo se desconstrói nas pequenas coisas: na normalização dos meninos realizarem atividades ditas femininas e vice-versa; no incentivo à liderança feminina; no fortalecimento da autoestima de ambos os sexos e na promoção do trabalho em conjunto. É também essencial que os meninos tenham espaços para serem vulneráveis, onde possam chorar, identificar seus medos e serem acolhidos, ao invés de ridicularizados.
A igualdade de gênero não deve ser vista como uma tarefa a mais, mas como uma questão presente em todas as nossas ações, a fim de promovermos relações saudáveis entre meninos e meninas e, quem sabe, um futuro de menos violência.
Juliana Feres
Consultora do Exército de Salvação para o Enfrentamento
à Escravidão Moderna e Tráfico de Pessoas (EMTP)
Artigo publicado originalmente na revista RUMO (edição novembro/dezembro)
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